Para desempenhar com sucesso as atividades realizadas no Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), desenvolvido pela Petrobras para cumprimento às condicionantes do licenciamento ambiental federal conduzido pelo Ibama, profissionais percorrem diariamente mais de 1.500 quilômetros de praias, entre Laguna, em Santa Catarina, e Praia da Vila, em Saquarema, no Rio de Janeiro.
São técnicos de campo e monitores, sendo parte deles provenientes de comunidades locais, com as mais diversas formações profissionais, mas todos com a mesma paixão: proteger a vida marinha, com compromisso ambiental, vocação e senso de responsabilidade social.
A rotina diária de monitoramento nas praias começa nas primeiras horas do dia, com o deslocamento dos profissionais até os pontos de cobertura, definidos conforme cronograma do trecho atendido pelo PMP-BS. As atividades principais incluem a inspeção visual das praias, procurando por encalhes de tartarugas, aves e mamíferos marinhos, debilitados ou mortos, que são encaminhados para atendimento veterinário ou necropsia, tendo as informações registradas no Sistema de Informação de Monitoramento da Biota Aquática (SIMBA), de acesso público.
Grandes variações de marés, condições climáticas adversas, ausência de sinal de celular, trânsito e superlotação das praias nas temporadas de verão, estão entre os desafios enfrentados pelos profissionais, que utilizam diversos recursos disponibilizados para atendimento ao PMP-BS como carros, caminhonetes, quadriciclos, bicicletas, equipamentos de proteção individual, celulares/tablets e GPS.
Monitoramento Associação R3 Animal - Trecho3
Um desafio importante é lidar com o público, explica Regina Reis, assistente técnica da Associação R3 Animal (Trecho 3), pois o trabalho costuma atrair a atenção de banhistas e curiosos gerando aglomerações. "Frequentemente, os profissionais estão envolvidos com o atendimento a animais mortos ou debilitados e, ao mesmo tempo, precisam orientar as pessoas a manter distância e explicar a situação. Nessas ocasiões, a equipe também está sujeita a críticas de pessoas que não compreendem o trabalho ou que consideram um desperdício de tempo salvar os animais. Essas situações reforçam a importância de ações educativas prévias e contínuas de conscientização ambiental junto à comunidade.”
Regina também aponta dificuldades de acesso a algumas áreas. “A equipe de monitoramento encontrou um leão-marinho morto na Praia da Lagoinha do Leste, cujo acesso se dá exclusivamente por uma trilha de nível moderado a difícil. A necropsia do animal foi realizada nesta praia. Foi uma ação que exigiu união e dedicação da equipe, devido às dificuldades de deslocar pessoal para reforçar a equipe até o local, incluindo veterinários. Apesar do desafio, a ação foi bem-sucedida”, destaca.
Monitoramento Instituto Australis - Trecho 2
Para a bióloga Laura Bonavigo, do Instituto Australis, que monitora do Trecho 2, entre as situações vivenciadas, as mais marcantes são o encontro de grandes baleias ou golfinhos encalhados, que sempre surpreendem pelo tamanho e complexidade da ação. “Também podemos citar grandes amigos que fazemos pelo trecho, que nos recebem e cumprimentam com muito carinho todos os dias”, ressalta.
Para ela, no trabalho de campo, a sintonia entre técnico e monitor é fundamental, pois ambos auxiliam no trabalho um do outro, facilitando e otimizando a rotina. “Como ficamos muitas horas juntos em deslocamento, criam-se laços de amizade e trocas dos mais variados assuntos”, diz.
Ela cita que o PMP-BS impacta positivamente as comunidades, que entendem a importância do trabalho dos monitores. “Sempre que paramos nas praias para resgate de algum animal, a população se mostra interessada e curiosa em entender como funciona o trabalho.”
Monitoramento Udesc - Trecho 1
Conscientização ambiental Para as equipes que atuam no projeto, o trabalho de conscientização das comunidades é um processo de constante diálogo e construção de confiança. “Introduzimos a semente da educação ambiental nessas pessoas”, explica Alessandra Fehrmann, bióloga e técnica de campo do PMP-BS/Univille, que considera o trabalho muito gratificante. “Constantemente realizamos treinamentos para resgate e manuseio de fauna oleada, identificação de cetáceos, mamíferos, dentre outros cursos e treinamentos. Poder alinhar a minha paixão com o meu trabalho me proporciona uma realização pessoal e profissional, sou muito grata por tudo que vivo na rotina dinâmica de técnica de campo do PMP-BS/Univille e de todo aprendizado que ele proporciona”, completa.
Para Dreicky de Frein, biólogo marinho e técnico de campo do PMP-BS/Univille, é notório a crescente participação de moradores das comunidades. “É comum fazerem a salvaguarda até nossa chegada afastando animais domésticos, sentem-se parte daquele resgate. Outros se aproximam para perguntar quem somos e o que estamos fazendo, e jamais desperdiçamos a oportunidade de falar sobre nosso trabalho”, destaca.
Monitoramento UFPR - Trecho 6
Qualificação profissional para as comunidades As capacitações são parte importante da rotina no projeto, com treinamentos que abordam diversos temas. Para Marcio Rimoli Flor, que atua no Trecho 1, realizado pela Udesc, a troca de conhecimentos foi fundamental para sua formação. “Comecei no projeto como monitor de campo e, na época, em 2017, nem tinha o ensino médio completo. Estar nesse ambiente me motivou a concluir os estudos e, depois disso, iniciei uma graduação na área ambiental. Hoje, atuo como Técnico de Monitoramento, e esse caminho só foi possível por causa das oportunidades que o projeto me proporcionou, tanto pelas capacitações quanto pelo apoio e incentivo da equipe. É muito gratificante olhar para trás e ver o quanto evoluí, pessoal e profissionalmente, desde que entrei para o projeto.”
Para Marcio, um dos momentos marcantes do seu trabalho foi o resgate de um filhote de baleia-franca encalhado em um banco de areia. “Acionamos reforço técnico e, com apoio da equipe e da própria comunidade local, que se envolveu e ajudou com muito respeito, conseguimos realizar o desencalhe com sucesso. Ver aquele animal voltando ao mar depois de todo o esforço foi emocionante”, diz.
Monitor do Instituto Gremar - Trecho 9
O monitor de campo Matheus Sathres atua no PMP-BS desde 2018 e fala com orgulho da contribuição do seu trabalho para a preservação da fauna marinha. “Este trabalho representa uma vida para mim, é inexplicável o privilégio de poder ter um trabalho assim. Acredito que a comunidade só tem a ganhar com isso tudo. Minha filha, por exemplo, já tem uma consciência bem legal sobre essa preservação, graças ao exemplo que o projeto proporciona”.
Para Bernadete do Rosário Squenine, monitora de campo em Guaraqueçaba, no Paraná, além de fazer a diferença cuidando da natureza, seu trabalho também é uma fonte de renda para a família. “Para mim, é uma oportunidade de ter uma vida financeira mais estável, principalmente por ser aqui na ilha, onde empregos formais são mais difíceis. Além disso, o projeto contribui também no desenvolvimento de conhecimento, educação e valorização do território. Aprendemos todos os dias, e isso transforma a forma como vemos o lugar onde vivemos”, destaca.