No dia 30 de setembro de 2021, um atobá-pardo (Sula leucogaster) foi encontrado na praia da Enseada, no Guarujá (SP), com sintomas de exaustão, o que é comum em aves marinhas encontradas debilitadas. Apesar destes sintomas de exaustão, o atobá apresentava um bom aspecto e parecia que ia se recuperar, entretanto, dias depois, ele morreu.
O que teria levado ao óbito um animal aparentemente saudável? Para responder perguntas como esta, entra em cena um exame chamado necropsia, que é uma ferramenta essencial para revelar informações sobre história de vida de um animal e dos motivos que o levaram a morrer.
Se você é fã de séries de investigação criminal, como Criminal Minds, CSI, NCIS e Forever, já deve imaginar como funciona o processo. Aliás, nas séries tudo parece acontecer rapidamente, mas, na vida real, a investigação da causa de morte pode levar muitos dias.
No caso do atobá do Guarujá, a causa da morte estava no esôfago da ave: um pedaço de aproximadamente 40 cm de plástico. Nas imagens abaixo é possível observar à esquerda, a sacola dentro do órgão e, à direita, o objeto após ter sido retirado.
Uma das atividades do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é realizar necropsias de animais encontrados mortos em praias ou que venham à óbito durante atendimento veterinário. A necropsia é um exame externo e interno realizado por médico veterinário, feito no animal pós-óbito, com o objetivo de identificar a causa da morte e/ou de lesões por meio de uma avaliação completa e sistêmica dos órgãos, tecidos e cavidades.
Durante todo o procedimento são observados os aspectos dos órgãos, realizados registros fotográficos e coletadas amostras biológicas. Como nem sempre todos os detalhes aparecem nessa análise, são necessários exames complementares, como histologia (estudo dos tecidos) e microbiologia (pesquisa fúngica, bacteriana e vírus), por exemplo, para chegar a um diagnóstico final da causa da morte do animal.
“O procedimento da necropsia tem como objetivo investigar as causas e os processos patológicos envolvidos na morte de um animal, o que significa analisar detalhadamente os tecidos biológicos e estar atento à coloração, tamanho, presença de lesões, entre outros aspectos. Além disso, a necropsia pode contribuir de outras formas, como por exemplo a coleta de informações biológicas sobre as diferentes espécies de animais e o melhor entendimento de como os patógenos, doenças e afecções atuam nos organismos”, explica o médico veterinário do IPeC, instituição executora do PMP-BS entre Iguape a Cananeia (SP), Bruno Canonico.
Animais marinhos podem morrer afogados?
Uma cachalote-pigmeu (Kogia breviceps) foi encontrada encalhada em Boracéia, Bertioga, em abril de 2020. O animal encalhou vivo, mas foi devolvido ao mar por banhistas. Quando a equipe do PMP-BS chegou à praia a suspeita era de afogamento. Apesar das tentativas de salvá-lo, a pequena baleia morreu no mesmo dia. Mas, como saber ao certo?
Através da necropsia foi possível constatar a presença em abundância de líquido aerado nos pulmões da cachalote-pigmeu (veja imagens abaixo), confirmando a morte por afogamento. Os mamíferos marinhos, apesar de adaptados à vida em ambiente aquático, respiram fora da água e o manejo sem conhecimento, apesar de bem-intencionado, pode trazer consequências trágicas. Situações de afogamento como essa tem sido frequentes, especialmente em animais que ficam presos em redes de pesca e não conseguem voltar à superfície para respirar.
Equipe do PMP-BS realizando atendimento veterinário
E quais tem sido as principais causas de morte de animais marinhos?
Além de causas naturais, doenças, e situações nas quais não é possível identificar uma causa específica, em diversos casos as causas identificadas tem ligação com atividades humanas diversas, como por exemplo, ingestão de lixo, colisão com embarcações e captura acidental em redes de pesca.
Sobre o PMP-BS
O PMP-BS abrange municípios litorâneos dos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e do Rio de Janeiro (de Paraty até Saquarema). A extensa área a ser monitorada pelo PMP-BS é dividida em Área SC/PR (cuja execução é coordenada pela Univali), Área SP (cuja execução é coordenada pela empresa Mineral) e Área RJ (cuja execução é coordenada pela empresa Econservation).
O projeto, executado pela Petrobras para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, é uma ferramenta para a gestão ambiental das atividades da companhia.
O monitoramento engloba registro, resgate, necropsia, reabilitação e soltura de mamíferos, tartarugas e aves marinhas, contribuindo para a conservação da biodiversidade marinha.
A população pode participar, acionando as equipes ao avistar um animal vivo ou morto, pelos telefones: