No ano em que completamos uma década dos programas de monitoramento ambiental na Bacia de Santos, faremos uma série de conteúdos explicando o trabalho dos profissionais que atuam nesses projetos
Você sabia que em nossos projetos para atendimento de condicionantes do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, temos equipes de especialistas de diversas profissões?
Entre os especialistas que atuam em atividades relacionadas ao monitoramento dos ecossistemas marinhos e costeiros estão os oceanógrafos, responsáveis por cuidar e desvendar os mistérios e segredos dos oceanos.
Dia Mundial dos Oceanos e Dia do Oceanógrafo: 8 de junho
Proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU), o dia 8 de junho é comemorado o Dia Mundial dos Oceanos, data em que celebramos também o Dia do Oceanógrafo, profissional que mergulha na ciência para entender e proteger o oceano, e seus aspectos como hábitat da vida marinha, correntes e circulação oceânica, bem como fonte de alimento, emprego e renda para milhões de pessoas.
A rotina desse especialista pode incluir o acompanhamento das condições meteorológicas e do mar, como correntes e marés. “Isso ajuda a entender por que certos animais aparecem encalhados em determinadas épocas ou locais”, conta Gabriela Siqueira, oceanógrafa da Econservation, que participa de atividades de resgate e coleta de animais da fauna marinha, além de realizar registros ambientais e relatórios técnicos do PMP-BS.
Bruna Pissaia, gerente operacional do Trecho 4, executado pela Univali, do PMP-BS Área SC/PR
“Por ter uma formação multidisciplinar, o profissional consegue executar atividades que vão desde o monitoramento das praias, onde são aplicados conhecimentos meteoceanográficos, uso de sistema de localização global (GPS) e identificação, avaliação de espécies marinhas, até atividades laboratoriais, resgate, manejo de animais, gestão de projeto e de pessoas”, explica a oceanógrafa Bruna Pissaia, gerente operacional do Trecho 4, executado pela Univali, do PMP-BS Área SC/PR.
Para Bruna, a vivência de observação e coleta de dados in loco nos ambientes costeiros, quase que diariamente, permite que o oceanógrafo analise as variações dos dados ao longo do tempo e como eles são influenciados por diferentes variáveis. “Esses dados depois de validados geram relatórios ambientais que servem como base para projetos de conservação de espécies específicas, análise de saúde dos animais e dos oceanos, produções científicas e temas de debates acadêmicos, científicos e, inclusive, legislativos. O profissional oceanógrafo que trabalha no PMP-BS tem a oportunidade de colocar em prática a sua capacidade analítica e participar ativamente de debates, discussões e elaboração de planos que visam a proteção e conservação da vida marinha”, ressalta.
Tiago Ucella, técnico de campo do Instituto Argonauta
Olhar analítico: dados que contam histórias do mar
Os oceanógrafos Tiago Ucella, Tami Albuquerque e Guilherme Fluckiger, do Instituto Argonauta, no litoral norte paulista, citam a importância do PMP-BS para a produção de dados científicos para entender as ameaças enfrentadas pela fauna marinha e os impactos sobre os ecossistemas costeiros. “Com o apoio da oceanografia, o projeto conseguiu consolidar uma base de dados robusta e contínua sobre a fauna marinha na região, contribuindo para a identificação de áreas críticas, épocas de maior ocorrência de encalhes e padrões relacionados a causas de mortalidade”, explica Tami.
“Os oceanógrafos, assim como os biólogos em campo, são responsáveis pelas informações e registros dos animais encontrados. Esses registros alimentam o banco de dados do SIMBA (Sistema de Informações de Monitoramento da Biota Aquática), gerando muita informação e conhecimento sobre a biodiversidade marinha local e dando subsídios para ações de proteção e conservação da biodiversidade”, acrescenta Tiago.
Além da produção científica, Guilherme destaca que a contribuição do trabalho do oceanógrafo inclui educação ambiental, com trabalhos junto à população para levar informações corretas sobre os ecossistemas marinhos e costeiros, destacando a importância da preservação para incentivar e nortear ações em prol desses ambientes.
Guilherme Fluckiger, técnico de campo do Instituto Argonauta
Educação ambiental
Por meio de ações de educação ambiental junto às comunidades e turistas, o projeto também contempla conscientizar e sensibilizar a população, principalmente sobre questões relacionadas ao lixo nos oceanos.
Segundo Tiago, as ações de educação geralmente são realizadas em parceria com as escolas municipais da região contempladas pelo projeto, por meio de palestras, exposições ou visitas monitoradas à base do Instituto. “O acervo para as exposições conta com animais taxidermizados, como os pinguins e outras aves marinhas, ossos de baleias e golfinhos, além de cascos e crânios de tartarugas. Esses materiais ajudam na aproximação e sensibilização da comunidade para a preservação da biodiversidade”, conta.
A abordagem participativa dos oceanógrafos contribui para que a educação ambiental funcione como um canal de diálogo com diferentes segmentos da sociedade e com as comunidades locais, possibilitando divulgar o trabalho, ressaltar sua importância e demonstrar de que forma as comunidades são beneficiadas pelas ações do PMP-BS. “Com mais consciência sobre os problemas ambientais locais, habilidades pessoais como empatia e destreza social, somado ao conhecimento multidisciplinar e escuta ativa para a comunidade, é possível que o oceanógrafo consiga desenvolver um trabalho de colaboração, fazendo essa ponte entre a ciência e o senso comum, contribuindo com soluções criativas e viáveis para os problemas locais a partir desta troca”, destaca Bruna.
Tami Albuquerque, supervisor técnico de campo do Instituto Argonauta
Futuro da profissão
Diante dos avanços das mudanças climáticas e de seus impactos crescentes sobre os oceanos, a atuação dos oceanógrafos torna-se cada vez mais estratégica e indispensável para o cuidado com a biodiversidade marinha e a vida nas comunidades costeiras.
Conforme prevê Gabriela, diante de mudanças extremas no mar, temperatura, correntes e frequência de eventos meteorológicos, o profissional que estuda os oceanos ganhará relevância a partir de um trabalho interdisciplinar. “Vamos precisar trabalhar com dados mais precisos, usar mais tecnologia, como sensores, satélites e, com certeza, atuar em conjunto com outras áreas”.
Para Bruna, a combinação de conhecimento técnico, inovação e sensibilidade ambiental posiciona o oceanógrafo como um agente essencial na elaboração de soluções criativas e eficazes para a preservação dos ecossistemas marinhos no futuro. “A credibilidade da formação do oceanógrafo pode impulsionar a busca por profissionais que conseguem desenvolver soluções e tecnologias criativas e modernas para os problemas ambientais. O uso da inteligência artificial, junto ao senso analítico do oceanógrafo, com certeza, é uma tendência de união próspera, que deve render bons frutos aos ecossistemas marinhos e costeiros”, conclui.