Neste Dia Mundial da Tartaruga Marinha, celebrado em 16 de junho, destacamos a relevância das iniciativas para preservação das espécies no Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), conduzido pela Petrobras em cumprimento às condicionantes do licenciamento ambiental federal conduzido pelo Ibama.
Nos dez anos de atuação do PMP-BS, foram realizados mais de 60 mil resgates de indivíduos pertencentes às cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, como a tartaruga-verde (Chelonia Mydas) e a tartaruga-cabeçuda (Caretta Caretta), as mais frequentes nas regiões atendidas pelo PMP-BS.
Técnico de monitoramento e Monitor de campo realizando atendimento e registro biométrico de uma Tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta). Imagem: Beatriz Della Méa, PMP-BS - Udesc
A bióloga Camila Domit, do Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC/UFPR), responsável por monitorar e avaliar os encalhes no Trecho 6 do PMP-BS, explica que o monitoramento de praias possibilita a sistematização de dados científicos de longo prazo sobre a fauna marinha, os impactos à biodiversidade e a avaliação da saúde oceânica. “Esses dados subsidiam estudos técnicos-científicos, compilados em relatórios técnicos, artigos acadêmicos, livros, resumos para congressos e outros documentos que, juntos, contribuem para o desenvolvimento da ciência oceânica brasileira”, conta.
Soltura de tartaruga marinha resgatada pelo PMP-BS - Instituto Gremar
Principais ameaças enfrentadas pelas tartarugas marinhas
Apesar de estarem entre os animais mais longevos do planeta, com uma expectativa de vida que pode chegar a 100 anos, fatores como reprodução tardia e ameaças naturais e antrópicas impactam severamente suas populações.
Livia Bessa, da Econservation Estudos e Projetos Ambientais, que executa o PMP-BS no Estado do Rio de Janeiro, explica que “As principais ameaças às tartarugas marinhas são a pesca incidental, na qual as tartarugas podem ter interação com petrechos de pesca, tais como anzol, linhas de nylon e redes, a ingestão de resíduos sólidos, que podem causar asfixia e morte nos casos mais graves, a colisão com embarcações e doenças como a fibropapilomatose”.
Soltura de tartaruga marinha resgatada pelo PMP-BS - R3 Animal
Ações do PMP-BS para as tartarugas marinhas
O PMP-BS conta com protocolos padronizados para o monitoramento e registro das ocorrências de tartarugas marinhas, dos resgates de animais vivos, das atividades de reabilitação e para realização de necropsias em animais mortos, por exemplo.
O monitoramento nas praias é conduzido por equipes especializadas, que podem ser acionadas pela comunidade para atender encalhes de animais vivos ou mortos. No caso de tartarugas vivas, veterinários da Rede de Atendimento Veterinário do PMP-BS realizam hidratação, alimentação, exames clínicos e laboratoriais, e até cirurgias, promovendo sua recuperação para posterior retorno ao ambiente natural.
Já no resgate de animais mortos, são coletados dados biométricos e realizadas necropsias, sempre que a condição de decomposição dos indivíduos permite. “A necropsia permite investigar a condição de saúde que o animal se encontrava, as causas da morte, conhecer as características biológicas dos animais que ocorrem na região e gerar dados técnico-científicos para avaliações populacionais de larga escala temporal e espacial, trazendo avanços significativos sobre a biodiversidade brasileira”, explica Camila Domit.
Na área atendida pelo PMP-BS, também há registros ocasionais de ninhos de tartarugas marinhas, que são monitorados pelo projeto, mesmo sendo eventos raros na região.
Estudante de graduação da Udesc e Bolsista realizando a medição de um úmero de tartaruga-marinha com paquímetro digital. Imagem: Beatriz Della Méa, PMP-BS/Udesc
Quando todo o trabalho vale a pena
Na rotina dos profissionais que atuam no projeto, devolver uma tartaruga reabilitada retornando ao mar ou acompanhar o nascimento dos filhotes rompendo a areia e correndo em direção ao oceano é presenciar a força da vida em sua forma mais pura.
Um dos momentos mais marcantes para a equipe foi a reabilitação de uma tartaruga-cabeçuda que, ao ser encontrada no Trecho 6, no litoral paranaense, apresentava uma deformidade na carapaça e dificuldades de flutuação. Durante três meses de tratamento, ela recuperou o equilíbrio e a capacidade de mergulho, voltando saudável ao mar. “Este caso foi bastante simbólico para a equipe que acompanhou a garra do animal para sua recuperação. Foi uma alegria a primeira vez que viram a tartaruga mergulhando para caçar os peixes vivos que eram trazidos para a reabilitação”, conta a bióloga Camila Domit.
Outro evento emocionante ocorreu na praia de Salinhas, em Balneário Barra do Sul, em Santa Catarina, onde um registro inédito de ninho e o nascimento de tartarugas-verdes surpreendeu a equipe que monitora o Trecho 5. O técnico de campo percebeu um rastro incomum, suspeitando que uma tartaruga marinha havia desovado na areia catarinense — um fenômeno raro na região. Alguns dias depois, três ninhos foram encontrados e monitorados por quase quatro meses, com equipes se revezando para proteger os ovos e observar os parâmetros ambientais. “As imagens das verdinhas entrando na água e desaparecendo na imensidão do mar foi a confirmação de que o nosso trabalho valeu a pena”, comenta Jenyffer Vierheller Vieira, coordenadora do Trecho 5 do PMP-BS, executado pela Univille.
Ações educacionais - Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC)
Ações para reduzir o impacto humano sobre as tartarugas
Para os profissionais do projeto, a educação ambiental é uma das ferramentas mais eficazes para sensibilizar as comunidades, promovendo a inserção do PMP-BS nas localidades abrangidas pelo projeto e realizando as atividades de educação ambiental nas comunidades por meio de eventos, palestras, exposições e orientações sobre como agir ao encontrar animais nas praias à população.
Estas ações são realizadas ao longo de toda a área do PMP-BS, como por exemplo no Trecho 2, no qual o Instituto Australis de Pesquisa e Monitoramento Ambiental, desenvolve diversas ações de educação e sensibilização ambiental, com o objetivo de atingir diferentes públicos e dialogar com a comunidade local de Imbituba até Biguaçu, no Estado de Santa Catarina.