Importantes para o equilíbrio do ecossistema marinho, os tubarões e as raias estão cada vez mais presentes no litoral paulista. A observação é do Projeto Mar de Alcatrazes, que tem monitorado a presença desses animais no Arquipélago de Alcatrazes, localizado a aproximadamente 35 km ao sul de São Sebastião (SP).
“As raias mais comumente observadas na região são a raia-manteiga (Dasyatis hypostigma), a raia-borboleta (Gymnura altavela) e a raia-focinho-de-boi (Myliobatis freminvillei). Entre os tubarões as espécies mais observadas são o tubarão-seda ou do lombo-preto (Carcharhinus falciformis), o tubarão-martelo recortado (Sphyrna lewini) e o tubarão-martelo liso (Sphyrna zygaena). Também temos registrado no âmbito do projeto, o cação-mangona (Carcharias taurus), mas neste caso os registros são mais raros”, conta o coordenador do projeto, Fabio dos Santos Motta, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Em andamento desde 2021, o projeto é uma parceria entre Petrobras, Unifesp, a Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo (FapUNIFESP), o Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar/USP) e o Núcleo de Gestão Integrada ICMBio - Alcatrazes. A iniciativa visa ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade marinha na região, e subsidiar a adoção de medidas para minimizar os impactos das ações humanas sobre os ecossistemas existentes neste conjunto de ilhas.
14 de Julho: Dia Mundial para Conscientização sobre Tubarões e Raias
“As raias assim como a maioria dos tubarões são mesopredadores importantes do ecossistema marinho. Ao controlar a população das suas presas, asseguram a qualidade genética da biodiversidade e a saúde do oceano”, afirma o professor Fábio Motta.
Segundo ele, o Projeto Mar de Alcatrazes tem como principal objetivo monitorar a biodiversidade marinha e os fatores ambientais (salinidade, temperatura, turbidez etc) no Refúgio de Alcatrazes. “Temos utilizado múltiplas abordagens metodológicas para efetuar esses monitoramentos. Por exemplo, para os peixes utilizamos duas técnicas: o censo visual de peixes e as estéreos filmagens remotas subaquáticas com isca (do inglês BRUV). Os censos visuais são efetuados por mergulhadores utilizando equipamento SCUBA, eles delimitam uma área e fazem a identificação das espécies, a contagem dos exemplares bem como estimam o tamanho desses exemplares. Já os BRUVs são estruturas de metal com duas câmeras com uma haste central que carrega 800 g de sardinha (isca). A isca gera uma pluma de odor que atrai os peixes mesopredadores (tubarões e raias) que normalmente costumam evitar os mergulhadores por conta da produção das bolhas pelo equipamento SCUBA”, explica Motta.
Os conhecimentos construídos pelo Projeto Mar de Alcatrazes têm sido publicados em artigos científicos, divulgados nos veículos de comunicação e compartilhados com o ICMBio para contribuir com a gestão adaptativa do Refúgio de Alcatrazes e da Estação Ecológica Tupinambás.
Atualmente, as principais ameaças registradas às espécies de tubarões e raias em todo o mundo são: a pesca não-manejada, perda e degradação de habitats, mudanças climáticas e poluição marinha.
Para Motta, a série histórica de dados feita pela equipe do projeto, apesar de pioneira, é fundamental e funcionará como uma linha-de-base, a ser utilizada no futuro para avaliar as flutuações temporais dessas espécies.
“Neste momento, podemos destacar que os resultados do projeto Mar de Alcatrazes, além de indicarem sinais iniciais de recuperação das populações de tubarões em Alcatrazes, também sugerem que o arquipélago funciona como um ponto de passagem para juvenis de espécies de tubarões que, na fase adulta, apresentam hábitos mais associados a águas oceânicas e semi-oceânicas (por exemplo, tubarões-seda e tubarões-martelo). Além disso, nossos achados ressaltam a importância de garantir a proteção de Alcatrazes e de manter os esforços de monitoramento com o uso de BRUVs para avaliar as assembleias locais de tubarões, contribuindo para a avaliação da efetividade da gestão dessa importante área marinha protegida”, completa o coordenador do projeto.
“Acredito que, ao mostrarmos evidências iniciais sobre a recuperação das populações de tubarões em Alcatrazes, mostrando imagens desses animais no seu ambiente natural, contribuímos para desmistificar a imagem negativa que esses animais possam ter. Além disso, é importante destacar que, para as sociedades humanas terem um oceano saudável, esse mesmo oceano precisa ser saudável para os seus predadores que desempenham funções ecológicas fundamentais a esse propósito”, afirma ele.
Segundo Fábio Motta, dentre as formas de colaborar para a preservação dessas espécies, estão por exemplo a valorização de pescarias que respeitam as legislações vigentes, a valorização dos projetos de extensão pesqueira e em parceria com comunidades de pescadores, evitar o consumo de espécies ameaçadas de extinção.
“Os tubarões e as raias precisam muito da nossa atenção, assim como precisamos muito deles para manter a saúde dos oceanos. Ao protegê-los, estamos contribuindo para manter a oferta de uma enorme variedade de benefícios gerados pelo ecossistema marinho”, completa o pesquisador.