Pinguins, baleias e lobos-marinhos. Há uma característica comum entre esses animais tão distintos: são espécies migratórias e que chegam ao nosso litoral quando começa o inverno.
Quando o inverno chega no hemisfério sul, animais destas espécies, que passam os meses mais quentes do ano em águas mais frias, como as do sul do Chile ou da Argentina, e até mesmo próximas ao continente Antártico, vem para regiões mais quentes, como o litoral brasileiro.
Neste esforço de migração, que pode envolver o deslocamento dos animais por centenas ou até milhares de quilômetros, muitos enfrentam condições climáticas difíceis, falta de alimento, ou podem se ferir em petrechos de pesca ou com lixo jogado no mar. Assim, vários animais migratórios podem chegar debilitados ou até ser encontrados mortos em praias, especialmente os mais jovens.
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos, realizado desde 2015, tem contribuído para o aprofundamento dos conhecimentos sobre estas espécies migratórias marinhas, por meio do registro das ocorrências dos animais marinhos encontrados vivos ou mortos e do atendimento veterinário aos animais marinhos encontrados debilitados ou encalhados nas praias.
Confira informações e curiosidades sobre algumas espécies migratórias registradas pelo PMP-BS.
Pinguins-de-magalhães
As imagens de pinguins-de-magalhães no litoral sul e sudeste do Brasil se multiplicam assim que o inverno começa por aqui. Vindos do litoral da Argentina, do Chile e das Ilhas Malvinas, essa espécie migra para a costa brasileira pelas correntes marítimas frias em busca de alimento e de temperaturas mais amenas.
Grande parte dos registros de pinguins-de-magalhães realizados pela equipe do PMP-BS são de animais mortos, seja pelas próprias dificuldades da migração, mas também pela ingestão de lixo ou por se enroscarem em petrechos de pesca no trajeto.
Em 2020, mais de 5 mil pinguins foram registrados vivos ou mortos pelo PMP-BS, com um grande número de encalhes, sendo que os animais debilitados foram atendidos nos Centros de Reabilitação do projeto.
“A temporada de pinguins de 2020 certamente foi desafiadora e trouxe para a equipe muito aprendizado e maior preparo para eventos como esse que, porventura, possam se repetir nos próximos anos”, destaca Andrea Maranho, coordenadora do Instituto Gremar, instituição responsável pelo monitoramento no Trecho 9 do PMP-BS, no Estado de São Paulo.
Baleias
“O inverno também é a época de migração das baleias. No verão, elas se dirigem às águas polares em busca de alimentação e no inverno migram para as águas tropicais e subtropicais para a reprodução e dar à luz aos filhotes. O período de junho/julho é caracterizado por iniciar as primeiras aparições que continuam até novembro/dezembro”, explica o biólogo Paulo Marrom, da Econservation, empresa responsável pelo PMP-BS no Estado do Rio de Janeiro.
As espécies de baleias mais comuns no litoral monitorado pelo PMP-BS são as baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) e as baleias-franca (Eubalaena australis).
As baleias jubartes viajam milhares de quilômetros desde as águas polares da Antártica até as águas tropicais brasileiras com o objetivo de se reproduzir. O principal local de reprodução da espécie no Brasil fica no Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na região costeira do sul da Bahia.
“Em 2021, o início da temporada reprodutiva das baleias foi precoce, sendo já marcada por avistagens no Sul e Sudeste, o que representa um sinal claro da recuperação da espécie, principalmente pelos projetos de conservação”, destaca Andrea Maranho, coordenadora do Instituto Gremar, instituição responsável pelo monitoramento no Trecho 9 do PMP-BS, no Estado de São Paulo.
Além das espécies mais comuns entre as baleias, o PMP-BS já registou o aparecimento de espécies incomuns no litoral brasileiro, como a baleia-bicuda-de-cuvier (Ziphius cavirostris), que encalhou em fevereiro de 2020 em Palhoça-SC, registrada pelo Instituto Australis, instituição responsável pelo monitoramento no Trecho 2 do PMP-BS, no Estado de Santa Catarina.
Lobos, leões, focas e elefantes marinhos, os pinípedes
O comportamento migratório é observado também entre os pinípedes. Seis espécies costumam migrar durante o inverno para o litoral brasileiro, especialmente para as regiões sul e sudeste: lobo-marinho-do-sul (Arctocephalus australis), lobo-marinho-antártico (Arctocephalus gazella), lobo-marinho-subantártico (Arctocephalus tropicalis), leão-marinho-do-sul (Otaria flavescens), foca-caranguejeira (Lobodon carcinophaga) e elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina).
Os lobos-marinhos aparecem na costa brasileira principalmente de junho a outubro, quando chegam vindos das águas frias do sul, em busca de alimento e descanso, podendo estar debilitados.
No ano passado, três lobos-marinhos subantárticos (Arctocephalus tropicalis) apareceram na Baixada Santista, sendo que um deles foi resgatado em agosto de 2020 em Praia Grande. “Muito provavelmente, o animal chegou até a praia porque estava cansado pela longa viagem migratória”, explica o médico veterinário Rodrigo Valle do Instituto Biopesca, instituição responsável pelo monitoramento no Trecho 8 do PMP-BS, no Estado de São Paulo. Um microchip subcutâneo foi colocado no animal para ele que possa ser identificado caso seja encontrado novamente.
“Na praia, a orientação é sempre que as pessoas não se aproximem para que os lobos-marinhos possam descansar. Caso o animal se sinta importunado e volte ao mar antes de recuperar as energias, a chance de sobrevivência diminui”, destaca Rodrigo Valle.
Sobre o PMP-BS
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) abrange os municípios litorâneos de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e do Rio de Janeiro (de Paraty até Saquarema).
A extensa área a ser monitorada pelo PMP-BS é dividida em três Áreas:
- Área SC/PR (execução coordenada pela Univali);
- Área SP (execução coordenada pela empresa Mineral);
- Área RJ (execução coordenada pela empresa Econservation).
O PMP-BS é realizado pela Petrobras para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.
Caso aviste um animal marinho vivo ou morto nas praias, informe pelos telefones: