Um boto-cinza recolhido às 6h36 do dia 24/08/2015 marcou o primeiro registro de fauna do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS). De lá para cá, muitos animais foram registrados, permitindo a obtenção de dados inéditos sobre diversas espécies marinhas para a ciência brasileira e contribuindo para sua preservação. Para ratificar a grandeza do projeto, um pinguim encontrado às 9h10 do último dia 27/07 representou o registro de número 100 mil em 6 anos de existência do PMP-BS, que abrange os municípios litorâneos dos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e do Rio de Janeiro (de Paraty até Araruama). O projeto é executado pela Petrobras para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.
Pedro Volkmer de Castilho, coordenador do Trecho 1 do PMP-BS, entre Laguna/SC e Imbituba/SC, executado pela Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), ressalta a extrema relevância do projeto para a fauna marinha brasileira: “O PMP-BS foi um importante divisor de águas. Antes do início do projeto, os monitoramentos de praia eram realizados de forma precária e muitas vezes improvisada, sem condições adequadas para atendimento de animais vivos ou mortos. Com a instalação do PMP-BS foi possível instituir na prática todo o conhecimento técnico e científico para o monitoramento eficiente da fauna marinha. Ganhamos em qualidade técnica e ampliamos a infraestrutura”.
Além das atividades de monitoramento das praias com equipes dedicadas, o projeto também contempla o acionamento por instituições parceiras (empresas de limpeza urbana e corpo de bombeiros, por exemplo) e pela população que frequenta a região litorânea, por meio dos números 0800 do projeto, quando encontram animais nas praias, sendo para isto realizadas constantes ações de comunicação e de educação ambiental.
Quando uma equipe do PMP-BS encontra um animal vivo nas praias, é realizada uma avaliação externa e de comportamento para verificar se será ou não necessário realizar o atendimento veterinário. No caso de animais em boas condições, é realizado apenas o registro da espécie e de informações básicas, buscando não interferir nos seus comportamentos.
No caso de animais que apareçam debilitados, com ferimentos, lesões ou impossibilidade de retornar ao mar por meios próprios, se houver necessidade de reabilitação é realizado o resgate em meio de transporte adequado e direcionado para a instalação da Rede de Atendimento Veterinário mais próxima. O processo de reabilitação envolve a realização de exames clínicos e laboratoriais, tratamento, manejo e alimentação adequada para cada espécie, visando a soltura sempre que possível. Em caso de baleias encalhadas vivas (maiores de 3 metros), são realizados nas praias os procedimentos de atendimento a encalhes coordenados por médicos veterinários, conforme legislação aplicável.
Se a equipe do PMP-BS encontrar um animal morto, também são registradas informações básicas. Quando a carcaça não está em avançado estágio de decomposição, é possível encaminhar para a Rede de Atendimento Veterinário, onde serão realizados exames que visam esclarecer a causa da morte e fornecer outros dados sobre o animal, como idade, sexo, dieta, entre outros. Isto gera informações muitas vezes difíceis de obter a partir de animais vivos e que podem ser úteis para aprimorar o manejo e a conservação destas espécies.
Os dados obtidos pelo PMP-BS são apresentados anualmente ao IBAMA em relatórios técnicos e também tem contribuído para a produção científica das várias instituições envolvidas no projeto por meio de artigos, trabalhos de graduação e pós-graduação, entre outros. Como estes dados ficam armazenados em um sistema de acesso público, o SIMBA (Sistema de Informação de Monitoramento da Biota Aquática), as informações geradas pelas instituições envolvidas no projeto podem ser subsidiar pesquisas de outras instituições, ampliando o alcance do uso dos resultados do projeto.
Caso emblemáticos
Para celebrar os seis anos do projeto, reunimos abaixo algumas histórias marcantes do PMP-BS.
- Uma baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) encalhou viva em agosto de 2017 na Restinga da Marambaia, na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Equipes do PMP-BS, com participação da Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos do Sudeste, se mobilizaram juntamente com órgãos públicos e realizaram o desencalhe bem-sucedido da baleia. As atividades realizadas foram de avaliação física, promoção de conforto térmico e da pele durante o encalhe e o procedimento de desencalhe.
Promoção de conforto, com uso de panos para evitar queimaduras e ressecamento da pele da baleia
Procedimentos de desencalhe da baleia jubarte
- A toninha (Pontoporia blainvillei) é a espécie de golfinho mais ameaçada de extinção do Brasil. Em fevereiro de 2019, a equipe do Instituto Biopesca (IBP), instituição executora do Trecho 08 do PMP-BS, socorreu em uma praia de Peruíbe/SP uma toninha viva encalhada que apresentava marcas evidentes de rede de pesca na cabeça. Depois de receber os cuidados necessários, ela voltou ao mar. Como foi o primeiro atendimento a encalhe de toninha viva realizado pelo IBP, foi considerado um episódio marcante pela equipe envolvida.
Animal transferido em campo para uma piscina inflável de 1.000L com auxílio de flutuadores. Os olhos foram mantidos com panos úmidos e foi realizada lavagem com solução fisiológica
Atendimento à toninha na praia em local isolado dos transeuntes.
- No inverno de 2019, um albatroz (Thalassarche melanophris) chegou à Unidade de Estabilização de São Sebastião/SP, gerido pelo Instituto Argonauta, instituição executora do Trecho 10 do PMP-BS, muito magro e sem lesões aparentes, mas sem conseguir se manter em pé. Os albatrozes são aves de hábito oceânico, que podem ficar longos períodos sobrevoando o oceano sem pousar. Um dos manejos aplicados foi estimular o animal a caminhar, iniciativa que teve êxito, sendo possível realizar sua soltura.
Soltura do albatroz
Albatroz em vida livre, após a soltura
- Um lobo-marinho-sul-americano (Arctocephalus australis) encalhou em agosto de 2020 em Barra de Guaratiba, na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Durante sete meses o animal passou por diversos tratamentos veterinários no Centro de Reabilitação e Despetrolização (CRD) de Araruama/RJ, incluindo a realização de cirurgia no olho esquerdo para correção de uma lesão ocular. O processo de soltura do indivíduo ocorreu em março de 2021 com apoio do CRD de Florianópolis/SC nas proximidades da Ilha do Xavier, local com melhores condições para o retorno à natureza naquela época do ano. Para levar o animal até Florianópolis, foram realizados um trajeto rodoviário e um trecho aéreo em voo comercial a partir do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, até o Aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis. A articulação e o trabalho integrado entre as duas instalações da rede de atendimento dos Estados do Rio de Janeiro (CRD Araruama, gerido pela empresa CTA) e de Santa Catarina (CRD Florianópolis, gerido pela Associação R3 Animal) contribuiu para o sucesso do transporte e da soltura. Clique aqui para saber mais.
- Uma tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) resgatada em setembro de 2020 na praia de Itanhaém/SP chegou à instalação da Rede de Atendimento Veterinário em estado crítico, sendo necessário diversos cuidados veterinários, inclusive transfusão sanguínea. O caso foi marcante devido à complexidade e necessidade de trabalho integrado entre quatro das cinco instituições executoras do PMP-BS no Estado de São Paulo, os institutos Biopesca, Gremar e Argonauta, assim como a base de Ubatuba da Fundação Pró-TAMAR. Após 136 dias de reabilitação, a tartaruga reabilitada pode ser solta no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos-SP.
Tartaruga no flutuador
Transfusão Sanguínea
Animal em flutuador sendo manejado piscina de instalação da Rede de Atendimento Veterinário do PMP-BS
Animal nadando após a soltura na região da Laje de Santos-SP
Saiba mais sobre o PMP-BS
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos abrange os municípios litorâneos dos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e do Rio de Janeiro (de Paraty até Saquarema). A extensa área a ser monitorada (mais de 1.500 km de costa) pelo PMP-BS é dividida em Área SC/PR (execução coordenada pela Univali), Área SP (execução coordenada pela empresa Mineral) e Área RJ (execução coordenada pela empresa Econservation).
O projeto, executado pela Petrobras para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, é uma ferramenta para a gestão ambiental das atividades da companhia e entrega um resultado importante para a conservação das espécies marinhas.
A população pode participar, acionando as equipes ao avistar um animal marinho vivo ou morto, pelos telefones: