Um albatroz morto preso a uma garrafa de plástico. Um pinguim morto após ingerir uma máscara de proteção facial. Uma gaivota com problemas digestivos.
As fotos acima são evidências de um problema mundial: o descarte inadequado de lixo nas cidades, que atinge as praias, o oceano e os animais que vivem nestes ambientes.
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos acumula registros de animais mortos ou debilitados por interação com lixo em toda sua extensão, que vai de Laguna/SC a Saquarema/RJ.
Abaixo apresentamos três exemplos de tipos de lixo que causam problemas aos animais que vivem nas praias e no oceano.
Lixo plástico
Um exemplo recente aconteceu na véspera do Natal de 2020, quando o técnico de monitoramento Rafael Laurentino do PMP-BS (UDESC) registrou um albatroz-de-bico-amarelo (Thalassarche chlororhynchos) morto na Praia do Gi, em Laguna-SC. Este albatroz é uma espécie ameaçada de extinção no Brasil.
O animal, um macho jovem, foi encontrado emaranhado com uma linha de pesca presa em uma garrafa pet. Estes objetos impediam o animal de se movimentar adequadamente, e muito provavelmente ocasionaram seu óbito, pois podem ter impedido o animal de desempenhar os seus comportamentos básicos, como alimentação e voo.
Nos últimos anos, o PMP-BS tem registrado muitos casos semelhantes, gerando preocupações com relação à conservação desta e de outras espécies marinhas.
Restos de comida
Na temporada de verão, a grande quantidade de frequentadores nas praias costuma gerar um grande acúmulo de lixo, inclusive de restos de comida, que atraem os animais silvestres.
As gaivotas, por exemplo, podem se habituar a se alimentar de lixo nas praias, ingerindo desde restos de comida até plásticos. Nada disso faz parte da dieta natural destes animais, que se alimentam principalmente de peixes, moluscos e crustáceos.
Isto faz com o que ocorra um aumento no número de casos de aves marinhas com problemas digestivos, entre eles a intoxicação alimentar. Na Unidade de Estabilização de Animais Marinhos da Univali, em Penha-SC, chegam gaivotas com diarreia, desidratação grave e fraqueza generalizada, que levam alguns dias se recuperarem e voltarem a se alimentar de peixe, oferecido durante o tratamento.
Máscaras faciais
Em 9 de setembro de 2020, o PMP-BS encontrou um pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) morto na Praia de Juquehy, em São Sebastião-SP. Após a análise da carcaça pelo Instituto Argonauta, responsável pelo monitoramento no local, descobriu-se que havia uma máscara facial em seu estômago.
A notícia correu o mundo e foi noticiada por veículos de comunicação de diversos países, como Austrália, Suíça, Itália, Inglaterra, Portugal, EUA, Espanha e México.
O oceanógrafo Hugo Gallo Neto, presidente do Instituto Argonauta considera que “esse caso é a prova inequívoca de que esse tipo de resíduo causa mal e mortalidade também na fauna marinha, além de demonstrar a irresponsabilidade da pessoa que dispensa uma máscara em lugar inadequado, pois é um lixo hospitalar com risco de contaminação. A falta de educação em relação aos resíduos precisa ser trabalhada em todos os níveis: desde as crianças nas escolas, criação de legislação mais rígida, políticas de fiscalização com multa e reforço da colocação de lixeiras”.
Contribuição a nosso alcance
- Busque diminuir em seu dia-a-dia o consumo de materiais descartáveis, como canudos, cotonetes, copos, pratos, sacolas plásticas e isopor.
- Se houver iniciativa de reciclagem na sua cidade, separe o lixo reciclável dos outros tipos de lixo para esta coleta.
- Quando for à praia, recolha todo seu lixo e coloque nas lixeiras, se houver, ou leve para descartar em casa.
- Use a máscara facial para proteger-se do novo coronavírus, mas não deixe na praia!
Sobre o PMP-BS
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos. Esse projeto tem como objetivo avaliar os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, através do monitoramento das praias e do atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos animais encontrados mortos. O projeto é realizado desde Laguna/SC até Saquarema/RJ, sendo dividido em 15 trechos.