O oceano é um só. Não, você não leu errado. Apesar de estar dividido em cinco bacias (Atlântico, Pacífico, Ártico, Sul e Índico), elas se conectam e interagem formando o nosso enorme coração azul, uma massa contínua de água salgada que cobre cerca de 71% da superfície da Terra e tem grande importância ecológica, econômica, política e sociocultural.
As cinco regiões oceânicas somam 97% da água do planeta, influenciam o clima e as condições meteorológicas, proporcionam meios de subsistência para milhares de milhões de pessoas e são lar, base alimentar e berçário de diversas espécies de animais.
O mar é abrigo de diversas espécies, conecta habitats geograficamente distantes e fornece exemplos únicos de ciclos de vida e relações fundamentais entre os organismos. Diversas aves, mamíferos e outras espécies marinhas fazem trajetos ao longo dos oceanos, as migrações, e vão em busca de ambientes com maior disponibilidade de alimento ou adequados para etapas de seu ciclo de vida, como a reprodução.
Os pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus), por exemplo, se reproduzem na região do Estreito de Magalhães, na Patagônia Argentina e Chilena, mas, anualmente, quando chega o inverno, deixam suas colônias reprodutivas e nadam por cerca de 4.000 km até o litoral brasileiro em busca de alimento.
Entender as migrações dos animais marinhos é uma das principais temas investigados pelos pesquisadores da área, que buscam conhecer os padrões de deslocamento e quais fatores contribuem para estes padrões. Neste sentido, a marcação dos animais, também conhecida como anilhamento, é uma estratégia que permite identificar animais quando são reencontrados, o que pode ajudar a entender seu deslocamento. No PMP-BS, os animais reabilitados, são marcados antes da soltura, o que permite identificar animais que já foram atendidos pelo projeto, caso voltem a ser encontrados em outras praias.
“O anilhamento de animais marinhos (aves, tartarugas e mamíferos) é importante para conservação da fauna, pois traz informações sobre o ciclo de vida das espécies e os processos de migração, como por exemplo se a espécie volta para se reproduzir no mesmo local que nasceu, quanto tempo demora para se reproduzir, onde são as áreas de alimentação, entre outros. Esses entendimentos são necessários para desenvolver ações de conservação", explica a oceanógrafa, Tami Ballabio, do Instituto Argonauta, uma das instituições executoras do PMP-BS.
Eventualmente também são encontrados pelas equipes do PMP-BS animais que foram anilhados em outras partes do Brasil e do mundo. Em 2015, um bobo-pequeno (Puffinus puffinus) [foto] foi encontrado morto em Matinhos (PR). Sua anilha permitiu descobrir que a ave tinha percorrido 9.604 km em 68 dias (ela recebeu a marcação em Skokholm, Pembrokeshire, no Reino Unido). Outro caso emblemático foi o trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus) [foto] resgatado na Praia de Pernambuco, no Guarujá (SP) em agosto de 2022: os dados da anilha revelaram que ele viveu 25 anos sem encalhar, já que o último registro era o da colocação da anilha, em 1995, na Ilha Escalvada, Guarapari (ES), como filhote.
À esquerda imagem do bobo-pequeno encontrado em Matinhos/PR e a direita do trinta-réis resgatado no Guarujá/SP.
“Dessa forma, podemos integrar dados com diferentes instituições, que atuam no Brasil ou no exterior, evidenciando a importância de estarmos conectados para a proteção do ecossistema marinho e dos seres que os habitam”, conclui a médica veterinária Vanessa Ribeiro, do Instituto Biopesca.
Saiba mais sobre o PMP-BS O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos abrange os municípios litorâneos dos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e do Rio de Janeiro (de Paraty até Saquarema). A extensa área a ser monitorada (mais de 1.500 km de costa) pelo PMP-BS é dividida em Área SC/PR (execução coordenada pela Univali), Área SP (execução coordenada pela empresa Mineral) e Área RJ (execução coordenada pela empresa Econservation).
O projeto, executado pela Petrobras para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, é uma ferramenta para a gestão ambiental das atividades da companhia e entrega um resultado importante para a conservação das espécies marinhas.
A população pode participar, acionando as equipes ao avistar um animal marinho vivo ou morto, pelos telefones:
PMP Área SC/PR e Área SP – 0800 642-3341 PMP Área RJ – 0800 999-5151