Este ano, o Dia Mundial da Limpeza de Praias será diferente. O distanciamento social necessário neste momento de pandemia não permitirá a reunião de milhares de voluntários no Brasil em busca de resíduos. Mas nem por isso pode passar sem destaque.

Realizado sempre no terceiro sábado de setembro, o Dia Mundial da Limpeza de Praias mobiliza voluntários no mundo todo desde 1986, sob coordenação da entidade norte-americana Ocean Conservancy – Centro para a Conservação da Vida Marinha. A ação conta também com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Em razão do risco de aglomerações e do manuseio dos resíduos, em 19 de setembro, não será indicado repetir as cenas de grupos de voluntários limpando praias e rios, parques e ruas.

O alerta para os impactos de nossas atitudes, porém, precisa ser contínuo, e a data é uma oportunidade de reflexão.

 

A problemática do descarte incorreto de resíduos, especialmente quando observamos a vida marinha, é evidenciada pelos dados obtidos no Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), realizado há cinco anos entre Laguna (SC) e Saquarema (RJ)

“Todos os dias, somos alertados sobre os danos causados pelo lixo nos seres marinhos ao executarmos o PMP-BS e encontrarmos muitos animais debilitados ou já mortos em função dessa interação”, comenta Rodrigo Valle, coordenador geral do Instituto Biopesca, instituição que executa o projeto no trecho entre Peruíbe e Praia Grande (SP).

Testemunho contínuo

Apenas nesse trecho, entre agosto de 2015 e agosto de 2020, foi realizada a necropsia de cerca de 2.500 animais marinhos – com predominância de tartarugas (1.160) e aves (880). A análise constatou que cerca de 1.380 animais, considerando essas duas espécies, tiveram interação com algum tipo de resíduo.

No caso das tartarugas, o índice obtido nesse recorte de análise chega a 95%. O hábito de se alimentar de algas torna a espécie particularmente vulnerável em relação à poluição no mar. Uma das características do plástico é boiar nos oceanos, e os animais marinhos, em especial as tartarugas, confundem-se e acabam ingerindo o material. Com o estômago repleto de lixo, o animal tem a sensação de saciedade e para de se alimentar, tornando-se debilitado e fraco, o que abre caminho para outras enfermidades.

Casos de animais com plástico no estômago ou com resíduos presos em seu corpo são testemunhados continuamente pela equipe do PMP-BS. Entre os exemplos, uma toninha (Pontoporia blainvillei) foi encontrada sem vida em agosto na Praia Grande. Uma câmara de ar de pneu de bicicleta estava amarrada em sua nadadeira caudal.

Em julho, um pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) foi resgatado em Itanhaém muito debilitado. Em seu esôfago havia uma corda de mais de 80 centímetros.

Chama mais atenção um caso recente: no dia 9 de setembro, um pinguim foi localizado morto na praia de Juquehy, em São Sebastião. Ao realizar a necropsia, o Instituto Argonauta, que faz o monitoramento no litoral norte de SP, identificou que o animal havia ingerido uma máscara de proteção facial.

Educação ambiental em nosso dia a dia

Para fortalecer a preservação do ambiente marinho, o PMP-BS promove ações de educação ambiental envolvendo crianças, jovens e adultos de comunidades em sua área de abrangência.

 

Além de esclarecer sobre a própria atuação do projeto, as atividades reforçam a importância do descarte correto dos resíduos que geramos, demonstrando o impacto desse assunto com casos vivenciados pelas equipes.

O Dia da Limpeza de Praias – que excepcionalmente não terá ações presenciais este ano no país – é apenas um exemplo de mobilização de educação ambiental, um tema que precisa fazer parte de nosso dia a dia em todos os ambientes: em casa, na escola, nas associações de moradores, nas colônias de pescadores e nas empresas.

Saiba mais

www.diamundialdalimpeza.com.br