A Petrobras, em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo (Fundação Florestal), realizou, entre os dias 5 e 8 de abril, um workshop para apresentar as ações de atendimento à emergência de vazamento de óleo que assegurem a proteção e a prevenção de impactos sobre as Unidades de Conservação (UCs) na área de influência do empreendimento Etapa 3 do pré-sal.
O evento é uma condicionante ambiental do processo de licenciamento do empreendimento e contou com a participação de gestores da Fundação Florestal, das UCs, lideranças participantes dos conselhos gestores das UCs e demais interessados pelo tema.
“Nosso objetivo inicial é atender uma condicionante, mas, muito além disso, queremos trabalhar com transparência e proximidade para estarmos todos prontos para atuar em caso de emergência”, disse o gerente setorial de Manutenção e Pós-Licença para Águas Ultraprofundas, Libra e Búzios da Petrobras, Fernando Gonçalves, na abertura do evento.
Fernando apresentou a Política de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Petrobras, que foi atualizada esse ano e conta com 5 princípios (veja imagem abaixo). “Sabemos que quando se trata de emergência no ambiente marinho, com toda a riqueza e importância biológica do nosso litoral, temos que atuar em conjunto empresa, poder público e profissionais responsáveis pela gestão das UCs, que são quem conhece verdadeiramente o território, para termos êxito”, ressaltou.
Na sequência, o Diretor Executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, destacou a importância do workshop, como uma ação estratégica de relacionamento e nivelamento de informações. “Tenho certeza de que a atuação em rede, de forma organizada, é a melhor resposta para emergências”, afirmou.
Estudo de Dispersão e Estudo de Sensibilidade
A engenheira de Meio Ambiente da Petrobras, Larissa Akemi, apresentou a modelagem de dispersão de óleo e análise de vulnerabilidade da região de influência do Etapa 3. Segundo ela, um estudo de dispersão sempre busca resposta para alguns questionamentos como “Se tiver vazamento vai acontecer toque de óleo na costa?”, “Quais áreas serão atingidas e em quanto tempo?”.
Ainda que de forma probabilística, o estudo de modelagem direciona algumas ações e tomadas de decisão e auxilia na avaliação de impactos ambientais potenciais do empreendimento associados às condições anormais, ou seja, fora da rotina operacional. A modelagem é feita com base nos possíveis cenários e seus resultados são utilizados no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para fazer a análise de vulnerabilidade e análise de risco ambiental.
Larissa explica que são adotados 3 volumes de vazamento para os estudos: até 8m³ - pequenos vazamentos / até 200m³ - vazamento médio / pior cenário – para o Etapa 3 foi adotado 450mil m³ como pior caso, que corresponde ao afundamento de um dos FPSO do projeto com a tancagem cheia. Foram feitas inúmeras simulações com objetivo de conseguir contemplar toda a variabilidade ambiental e a sazonalidade do local para gerar resultados robustos que auxiliem a tomada de decisão.
Nenhum cenário de volume pequeno apresentou probabilidade de toque de óleo na costa. Para os cenários de volume médio, observou-se toque em 5 simulações e todos os cenários de pior caso apresentam toque de óleo na costa.
O menor tempo de toque de óleo na costa foi resultante do cenário de pior caso a partir do P3. No 1º semestre esse vazamento atingiria as Ilhas Maricá (RJ) e Ilha Rasa (RJ) em 215 horas. Já no 2ºsemestre, chegaria até Saquarema (RJ) em 118 horas.
“Esse tipo de informação é importante para composição de documentos associados às ações de atendimento a emergência”, disse Larissa, que também explicou que quando acontece uma emergência são rodadas outras modelagens (agora determinísticas, e não mais probabilísticas) para tomada de decisão no âmbito da Estrutura Organizacional de Resposta (EOR).
Estrutura de Resposta à Emergência
O consultor de contingência da Petrobras, Rodrigo Cochrane dividiu sua apresentação em 3 partes. No primeiro dia, ele falou sobre a EOR, no 2º sobre o Sistema de Gestão e no 3º dia apresentou um estudo de caso. O processo de contingência está estruturado na Petrobras sob um conceito chamado Caixa de Ferramentas (veja imagem abaixo).
À esquerda estão as diretrizes e cada fatia da mandala representa uma forma de resposta
“Como nunca sabemos como a emergência vai se apresentar, precisamos da nossa ‘caixa de ferramentas’ devidamente organizada e preparada para que possamos usar quando necessário”, disse o consultor.
Segundo ele, é fundamental saber como a equipe vai se organizar no momento da emergência e, para isso, existe o ICS (Incident Comand System), que é um sistema eficaz de comando, controle e coordenação de um indecente de qualquer tamanho ou natureza.
O ICS fornece uma estrutura organizacional de resposta padrão flexível, modular e escalonável, que pode se adequar a qualquer tamanho de incidente ou nível de risco. Tal estrutura possui uma hierarquia clara e objetiva e independente das fronteiras jurisdicionais.
“Ela permite que diferentes instituições como Defesa Civil, Ibama, Marinha, etc, se juntem conosco rapidamente em uma estrutura de gestão comum e assim podemos agir de forma eficiente”, explicou Rodrigo.
Em relação às técnicas de mitigação de impacto e controle, Rodrigo explicou que a principal delas é a contenção de recolhimento, com lançamento de barreiras. Existem vários tipos e modelos de barreiras, manufaturadas com diferentes tipos de material. A escolha do tipo de barreira está associada a fatores como cenário acidental, tipo do óleo, condições ambientais etc.
Entretanto, dependendo da espessura do óleo é preciso utilizar outras técnicas, como a aplicação de dispersantes químicos e a queima do óleo no mar. “São alternativas tomadas de forma criteriosa, sempre levando em consideração o impacto ao meio ambiente como um todo”, apontou Rodrigo.
O consultor afirmou que a emergência ocorrida no Nordeste em 2019 serviu para mostrar a importância da integração, da comunicação e da articulação para o controle de ocorrências. Ele foi chefe de operações da Petrobras no apoio ao Plano Nacional de Contingência no evento de manchas de óleo de origem desconhecida na região Nordeste e contou como aconteceu o apoio da companhia no evento.
Mesmo o vazamento não tendo originado em poços brasileiros, a Petrobras atuou initerruptamente em 3 pontos: - limpeza, proteção, contenção e fauna (resposta primária) / - esforço logístico / - apoio ao descarte de resíduos.
Além disso, participamos das ações de planejamento e oferecemos orientações técnicas para as ações de respostas a emergências. O objetivo da Petrobras foi colaborar com as autoridades e a sociedade nos trabalhos para preservação e recuperação do meio ambiente.
Entre outras coisas, foram mobilizados cerca de 500 profissionais de contingência e agentes ambientais por dia, mais de 600km de praia limpas cuidadosamente, 6 estuários protegidos, com disponibilização de 4mil metros de barreiras de contenção e mais de 900km de praias monitoradas por equipes especializadas a partir dos Programas de Monitoramento de Praias (PMP).
Resposta de Fauna
No último dia de Workshop, a Coordenadora de Atendimento Veterinário e de Emergência do PMP, Claudia Nascimento apresentou a gestão de resposta a fauna em caso de vazamento de óleo e monitoramento, captura e afugentamento de fauna em ambiente costeiro e offshore.
Durante a apresentação foi explanado sobre o Plano de Proteção à Fauna da Bacia de Santos (PPAF), o papel do PMP-BS na resposta de fauna em caso de vazamento de óleo e animais oleados e estratégias de tempo de resposta neste tipo de incidente.
Com base nos dados levantados pelo Mapeamento Ambiental para Resposta à Emergência no Mar (MAREM), foram identificadas 527 espécies (263 aves, 84 répteis e anfíbios e 180 mamíferos) com ocorrência na área de interesse definida pela modelagem e que estariam potencialmente sujeitas aos impactos de um derramamento de óleo na Bacia de Santos.
O êxito na recuperação de animais afetados pelo petróleo consiste no combate imediato aos efeitos primários do óleo, que são: estresse, hipotermia, desidratação, problemas gastrointestinais causados pela intoxicação resultante da ingestão de óleo, pneumonias e edemas pulmonares provocados pela inalação de gases, e anemia decorrente de hemorragias gastrointestinais e destruição de células sanguíneas por ingestão de óleo.
A estabilização destas condições iniciais, juntamente com o resgate rápido, a limpeza e o recondicionamento adequados são vitais para o sucesso do tratamento e reabilitação dos indivíduos. “É nosso papel entender e proteger a fauna e seu habitat, porque não basta reabilitar o animal, ele precisa ser reintegrado à um ambiente reconstituído”, disse Claudia.
No encerramento do evento, o gerente setorial de Meio Ambiente da Petrobras, Fernando Gonçalves, agradeceu a participação de todos durante os quatro dias de intenso aprendizado. “É muito bom ver que a cultura de resposta à emergência está muito bem fundamentada entre todos os respondedores. Nossas prioridades são inegociáveis: primeiro a vida, seguido da proteção do meio ambiente e da fauna para só depois pensar nos ativos e na reputação da companhia”, concluiu.